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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Marxismo, ideologia e religião

 10/08/2013 - Por Antonio Ozaí da Silva - em seu Blog do Ozaí

Jean-Pierre Vernant (1914-2007), [foto abaixo, quando jovem] intelectual de formação marxista, jovem comunista da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial e membro do Partido Comunista Francês no pós-guerra, diferencia o “marxismo de Marx”, uma “metodologia crítica indispensável para colocar corretamente questões de história”, do marxismo como “catecismo revisto e corrigido, às vezes censurado, ao qual foi reduzido, primeiro para justificar determinada prática política, em seguida para justificar um sistema de Estado burocratizado e de governo autoritário”.[*]

Este marxismo de catequese, a palavra transformada em dogma, verdade sagrada e absoluta, “aparece como um substituto da religião trazendo a seus 
fiéis certezas e respostas prontas, o que evita que eles pensem em perguntas embaraçosas. Entre os dois, a diferença talvez seja da mesma ordem que entre mito e razão” (p. 56).[1]

O marxismo religioso pressupõe mais do que adesão, exige a conversão, ou seja, a introjeção acrítica da ideologia à maneira religiosa.

Neófitos e prosélitos da fé profana amparam-se em livros elevados à categoria de sagrados, em autores e líderes cujas palavras são inquestionáveis; autoridades que, a exemplo dos profetas, denunciam os males do presente e anunciam a mensagem escatológica do paraíso na terra. 

Eles falam pelos livros, e, em seu nome, estabelece-se cultos e rituais.

Se a religião representa o que há de mais simbólico no homem, o tratamento religioso da ideologia secular implica em desenvolver uma concepção  transcendente da realidade.

A religião consiste em afirmar que, por trás de tudo o que se vê, de tudo o que se faz, de tudo o que se diz, existe outro plano, um além. É o símbolo em ação” (p. 64).

A ideologia, na medida em que assume um caráter escatológico, também se coloca, no plano do simbólico, para uma ação que visa o “além”, um objetivo final que está para além da realidade social vivenciada pelos homens e mulheres concretos do presente.

É o futuro incerto, mas inscrito no pensamento dos que agem como demiurgos do novo mundo.

A ideologia como religião é maniqueísta e messiânica. Estabelece-se diante da idéia de que existe o bem e o mal, e que o mal é encarnado pelo Outro (classe social, grupos, indivíduos, adversários, inocentes úteis que fazem o jogo do inimigo, solapam o bem e alimentam o mal etc.).

complemento deste maniqueísmo é a idéia de que cumprimos uma missão salvadora e libertadora.

Vernant, ao rememorar a sua militância comunista à época da juventude, afirma que, para alguém da sua geração, “ser comunista era pensar que estávamos entrando num período de confrontos decisivos contra as forças do mal. Não era apenas o destino individual que estava em jogo, mas o de toda a humanidade” (p. 468-469).[2]

Esse caráter redentor – “estar aqui pela humanidade” ou por uma classe social cuja missão é redimir a humanidade – revela uma certa fé ingênua. 

Havia de minha parte muita ingenuidade, uma ingenuidade humana e intelectual. Eu vivia nos livros, e acreditava também que as teorias marxistas, as teorias revolucionárias deveriam inscrever-se necessariamente na ação daqueles que as adotavam” (p. 469).

A teoria transforma-se em doutrina justificadora da ação. Se a realidade é incompatível com a doutrina, azar dela.

O fanatismo é outro traço religioso da ideologia. Ele se traduz no “culto ao líder”, na fidelidade cega à liderança e à ideologia encarnada por ela.

É sintomático que, a despeito dos fatos históricos, personagens como Stalin [foto] ainda encontrem defensores e seguidores.

É mais uma das características da ideologia enquanto religiosidade. A fé religiosa não admite a dúvida e, ainda que confrontada com a realidade, mantém-se firme e convicta. O marxismo religioso adota procedimento semelhante.

Como atesta Vernant: “O que foi chamado na época de Kruchev, de 'culto da personalidade’ fazia da pessoa de Stalin no topo do Estado, na URSS, uma entidade com valor propriamente religioso, sacramental, e foi transposto até mesmo para a França – com algumas nuanças” (p. 480).

O culto ao líder foi um dos alicerces do stalinismo, mas a idolatria transcende a figura de Stalin. A ideologia não prescinde do culto aos ídolos, sejam eles quem forem. Não é por acaso que os diversos ismos em que se dividem os 
marxismos originam-se de nomes próprios!

Um dos aspectos vinculados às religiões é o medo. Não é apenas o temor da condenação e tudo o que representa não ser salvo. Paradoxalmente, o crente ama e teme a divindade; aceita e voluntariamente submete-se.

Os sacerdotes, e outros que falam em seu Nome, nos lançarão diante do horror que ameaça consumir o corpo e alma. Em nome Dele, e para evitar o terror das trevas, muitos estão dispostos a fazer cruzadas e combater as 
heresias, nem que seja preciso consumir no fogo corpos e almas.

Ideologias também sacrificam os seus hereges no altar da ortodoxia secular, condenam as ideias exterminando os corpos que as abrigam e, assim,
reproduzem a inquisição em suas formas de tortura e morte.

Se o herege religioso é condenado ao inferno, a heresia política expressa o pecadoideológico imperdoável. Num caso, o terror religioso; no outro, o terror político.

Ambos exigem fidelidade absoluta. Mas é um terror incorporado e legitimado ideologicamente. É ingenuidade, ou desconhecimento, acreditar que regimes políticos se sustentam apenas pela repressão.

A própria massa é usada pelo e para o terror. “Terror das massas significa que as massas são ao mesmo tempo sujeito e objeto desse terror”.

Muitos foram vítimas e o medo se impôs a todos.

Contudo, Vernant [foto] observa que as massas “também foram sujeito desse terror pois, junto com a passividade, era acompanhado por uma espécie de participação, pois os discursos oficiais davam a entender que o inimigo estava em todo lugar, que era preciso proteger-se dele com os procedimentos da 'democracia de massa', ou seja, notadamente, com a denúncia, o que permitia que as massas colaborassem com o terror pendurado sobre suas cabeças.

Esse fenômeno extraordinário do terror interiorizado faz com que os homens da minha geração, na União Soviética, permaneçam marcados por esse medo, medo que fazia com que não pudessem falar, nem mesmo consigo mesmos” (p. 480).

Nestas condições, há espaço para uma relação de cunho religioso entre governante e governados, pensamento e ação. A URSS aparecia aos militantes como uma espécie de Jerusalém sagrada, Meca ou a utopia milenar realizada.

Ela “representava para nós o socialismo realizado e, apesar da contradição nos termos, a utopia encarnada, a utopia que se tornou Estado.

Éramos uma espécie de grupo religioso de tipo milenarista, com tudo o que isso implica em termos de fé, com a diferença de que os novos tempos já haviam chegado” (p. 482). Isto também era encarnado na relação fideísta com o partido.

Via-se este como uma espécie de “contra-sociedade, e eu diria até como família, ou, como seria mais exato, como fraternidade. Era de fato o que sentíamos” (Id.).

Neste contexto, a ideologia marxista assume caráter religioso e irracional: “Não só porque era incrivelmente simplificadora, mas também e principalmente porque excluía todo esforço de reflexão pessoal, toda atitude crítica, toda mobilização da inteligência."

"Era ensinada como uma espécie de credo, uma bíblia à qual era preciso aderir, e essa bíblia tinha poucas relações com a vida concreta dos jovens aos quais se impunha esse castigo. Logo, para eles, a verdade 'científica' e o ensino eram ao mesmo tempo algo muito rasteiro, sem relação com sua realidade, em que deviam acreditar ainda assim como um dogma sem questioná-lo” (p. 498).

O homem é anulado. Só lhe resta submeter-se ou desempenhar um papel religioso em relação ao partido, ao líder.

Fora disso, é o inferno: “Costumo dizer que o sistema totalitário é aquele que faz com um homem sentado no banheiro, na solidão oferecida pela porta fechada e trancada, é tomado pela angústia, pelo terror e por um intenso sentimento de culpa se de repente ocorre-lhe uma idéia subversiva ou insólita.

Em um sistema totalitário, com efeito, aderimos a nosso medo, tornamo-nos lisos, sem nenhum lugar em que possamos nos agarrar e de onde possamos recusar” (p. 508).

Há numerosas formas de expressar e vivenciar a crença ideológica e autoridades a definir qual a leitura ortodoxa sacramentada: “Mas como as formas de ler estabelecidas por essa autoridade eram mutáveis segundo as circunstâncias políticas, os modos de crença podiam variar segundo os indivíduos."

"Conheci bons comunistas, para começar eu mesmo, totalmente incrédulos no campo da ideologia, depois da guerra assim como o foram antes da guerra, mas que, entretanto, permaneciam completamente fiéis no plano político” (p. 510).

Havia os irremediavelmente crentes, os que se recusaram, a despeito de todas as evidências, a abandonar a “igreja”, aqueles cuja crença “ia além do último suspiro” e que desejavam o enterro oficial no seio da “Igreja” (Id.).

A experiência de Jean-Pierre Vernant mostra o quanto, sob determinadas circunstâncias históricas, a ideologia transubstancia-se em religião, ainda que afirme-se ateísta e vincule-se ao mundo profano. O mesmo pode ser observado no relato de Eric J. Hobsbawm. [3]

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[*] Para a reflexão sobre o tema sugiro também a leitura de "O marxismo é religião?", publicado em 19/05/2012; e, "O marxismo é utopia?!", de 06/07/2013.

[1] VERNANT, Jean-Pierre, "Entre Mito e Política", São Paulo: Edusp, 2002. Todas as citações são desta obra.

[2] Sugiro a leitura de HOBSBAWM, Eric J. "Tempos interessantes: uma vida no século XX". São Paulo: Companhia das Letras, 2002, em especial, o significado de “ser comunista” relatado por ele.
Ver "O marxismo é religião?", publicado em 19/05/2012.

[3] Idem.

Fonte:
http://antoniozai.wordpress.com/2013/08/10/marxismo-ideologia-e-religiao/

domingo, 7 de abril de 2013

A resiliência (*) das ideias de Karl Marx

02/04/2013 - por Fred Weston
- extraído do site Esquerda Marxista - da Seção Brasileira da Corrente Marxista Internacional

Quantas vezes ouvimos professores universitários, economistas, políticos e jornalistas declarando que Marx estava errado e que, embora tenha tido algumas percepções de como funciona o capitalismo, fracassou em ver o dinamismo do sistema capitalista e sua capacidade de se recuperar das crises e ir em frente?

No entanto, alguns anos depois, enquanto o sistema mergulha na mais séria crise da história, de vez em quando se ouve comentaristas declarando que Marx estava certo.

O mais recente é um artigo publicado pelo Time Magazine ontem [01/04/2013], intitulado A Vingança de Marx: Como a Luta de Classes se alastra pelo Mundo.

As frases de abertura dos primeiros três parágrafos são: “Supunha-se que Karl Marx estivesse morto e enterrado... Ou era o que pensávamos... Um crescente volume de evidências sugere que ele pode ter acertado”.

O primeiro parágrafo nos informa porque se supunha que Marx estivesse morto e enterrado: o colapso da União Soviética, o abrandamento da luta de classes, a expansão do comércio global, o boom asiático, e assim por diante.

O segundo parágrafo, no entanto, enfatiza a prolongada crise que está afligindo o sistema, causando a elevação dos níveis de pobreza, de desemprego e queda dos salários, e cita Marx, quando ele escreveu sobre a “acumulação de riqueza em um dos polos é, ao mesmo tempo, acumulação de miséria, de trabalho agonizante, escravidão, ignorância, brutalidade e degradação mental, no polo oposto”.

O autor aponta que, “Entre 1983 e 2010, 74% da riqueza criada nos EUA foram para os 5% mais ricos, enquanto os 60% da base sofreram um declínio...”.

Tendo reconhecido que até agora tudo parece indicar que Marx estava certo, o autor então volta para o comportamento padrão, “Isto não significa que Marx estivesse inteiramente certo. Sua ‘ditadura do proletariado’ não funcionou muito bem, tal como planejado”.

Esta é uma clara referência ao colapso da União Soviética. Com isto, espera-se que o público fique avisado para não levar Marx demasiado a sério.

Este é o costumeiro espantalho que se levanta a fim de fazer as pessoas acreditarem que, embora Marx possa ter desenvolvido uma interessante análise das contradições do capitalismo, ele não oferece uma alternativa viável e, portanto, nós pura e simplesmente temos que viver com aquilo que temos: o capitalismo!

O fato de que o que existia na União Soviética não era comunismo é algo que esses jornalistas preferem ignorar. Marx nunca contemplou o socialismo como um sistema que pudesse existir dentro das fronteiras de um só país, para não citar um país atrasado e subdesenvolvido como era a Rússia em 1917.

Lênin, que construiu o partido Bolchevique que levou à Revolução Russa, também nunca teve semelhante ideia. Foi por esta razão que ele gastou tanta energia na construção da Internacional Comunista e porque depositava tantas esperanças na revolução alemã.

Foi Stalin quem desenvolveu a ideia de “Socialismo em um Só País”, rompendo com as ideias fundamentais do marxismo sobre esta questão.

Trotsky explicou o que aconteceu na União Soviética em muitos escritos e, em particular, em seu clássico, "A Revolução Traída", no qual explica as razões objetivas da revolução russa – que começou como uma revolução saudável dos trabalhadores – que finalmente degenerou no monstruoso regime estalinista.

Nos livros escolares e na mídia, nada disto é explicado.

É melhor que a União Soviética sob Stalin seja apresentada como destino inevitável das ideias de Marx, de forma que as futuras gerações não se sintam tentadas a se aprofundar nos escritos de Marx.

Infelizmente para a classe capitalista e todos os seus parasitas, é a severa crise atual que está empurrando cada vez mais trabalhadores e jovens a buscar uma alternativa.

Apesar do que eles dizem as ideias de Marx sempre voltam e hoje mais do que em qualquer outra altura durante décadas. Isto acontece porque a luta de classes está de volta à agenda em escala global.

O artigo de The Time Magazine sinaliza isto: “a consequência dessa maior desigualdade é exatamente aquilo que Marx havia previsto: a luta de classes está de volta. Os trabalhadores do mundo estão crescentemente mais zangados e exigindo sua justa parte da economia global.

Desde o recinto do Congresso dos EUA às ruas de Atenas, às linhas de montagem do Sul da China, os acontecimentos políticos e econômicos estão sendo modelados pelas tensões em ascensão entre capital e trabalho em um grau nunca visto desde as revoluções comunistas do século XX”.

O artigo apresenta alguns pontos interessantes sobre como o conflito de classes se expressa nos EUA mesmo dentro da retórica entre Obama e os Republicanos sobre como os custos para se sair da crise podem ser repartidos entre as diferentes classes na sociedade.

Todas as vezes que Obama levanta a ideia de taxar de forma mais elevada as camadas mais ricas da sociedade estadunidense, os Republicanos o acusam de guerra social, enquanto exercem a sua própria guerra contra os trabalhadores e os pobres!

Contudo, a luta de classes não se confina apenas à América assolada pela crise e à Europa.

O autor salienta que mesmo onde o crescimento tem sido significativo nos anos recentes, como na China, há uma crescente luta de classes:

Apesar de a renda salarial estar crescendo substancialmente nas cidades chinesas, a distância entre ricos e pobres é extremamente vasta.

Outra investigação de Pew revelou que aproximadamente metade dos chineses pesquisados considera a divisão entre ricos e pobres um problema muito grande, enquanto oito entre dez concordam com a afirmação de que ‘os ricos ficam cada vez mais ricos enquanto os pobres cada vez mais pobres’ na China”.

De forma alguma isto é uma surpresa para os marxistas.

Entendemos que o desenvolvimento da economia sob o capitalismo significa o fortalecimento da classe trabalhadora em termos de seu peso na sociedade, e devido a desigual distribuição da riqueza produzida isto inevitavelmente significa tensão entre as classes, mesmo quando há um boom.

Vimos isto no passado na Europa com as explosivas lutas de classe na França em 1968 e na Itália em 1969, em pleno boom do pós-guerra!

O autor cita um trabalhador chinês, Peng Min:

As pessoas de fora veem nossas vidas como se fossem fartas, mas a vida real na fábrica é muito diferente... A forma de o rico ganhar dinheiro é através da exploração dos trabalhadores... Estamos ansiosos pelo comunismo... Os trabalhadores se organizarão mais... Todos os trabalhadores devem estar unidos”.

De sua visão geral das crescentes tensões entre as classes no mundo inteiro, dos EUA à China, da Espanha à Grécia e mais além, o autor conclui o seguinte: “Há indícios de que os operários de todo o mundo estão ficando crescentemente impacientes com suas tênues perspectivas.

Dezenas de milhares tomaram as ruas de cidades como Madri e Atenas, protestando pelo desemprego estratosférico e contra as medidas de austeridade que estão tornando a situação ainda pior”.

Em seguida, esperando oferecer algum consolo a algum capitalista que pudesse estar lendo o artigo, ele declara que, “Até agora, de qualquer forma, a revolução de Marx ainda tem que se materializar”.

Nisto, podemos concordar. Ainda não houve uma revolução socialista. Mas o que o autor deseja com veemência é que ela nunca se materialize. Isto é algo que não podemos concordar.

O que ele tenta apresentar é um quadro de trabalhadores que não querem derrubar o sistema, mas simplesmente reformá-lo. Nisto ele pede a ajuda do suposto “expert em marxismo”, Jacques Rancière, da Universidade de Paris.

Rancière (foto) é um exemplo daquela espécie de Professor Universitário que se refere a si mesmo como progressista, mas que, na realidade, gasta seu tempo negando a essência do marxismo.

Isto fica claro quando ele explica que, “Não estamos vendo nos protestos de classes apelos à derrubada ou destruição do sistema socioeconômico atual. Os conflitos de classes que hoje estão se produzindo são apelos para se corrigir os sistemas, de forma que se tornem mais viáveis e sustentáveis no longo prazo através da redistribuição da riqueza criada”.

A análise do Professor Rancière – que os trabalhadores não estão exigindo uma revolução socialista – pode ser um conforto para aqueles que desejam preservar o sistema capitalista.

Ele afirma que, “as perspectivas dos partidos trabalhistas ou socialistas ou dos governos de qualquer lugar de reconfigurar significativamente – e muito menos de virar – o atual sistema econômico são, para falar gentilmente, fracas”.

Ele baseia tudo isto na presente situação do movimento dos trabalhadores, em particular de seus líderes. Se o futuro do movimento internacional da classe trabalhadora dependesse desses líderes, então o Professor teria razão.

A questão que temos de entender é que os líderes não permanecem líderes para sempre. A crise do sistema está colocando todas as ideias em teste. A ideia de que o sistema pode ser reformado está sendo questionada pelo impasse em que se encontra. Não há mais espaço para reformas como no passado.

Pelo contrário, todas as reformas conquistadas em décadas de luta de classes estão sendo destruídas. Os trabalhadores em todas as partes enfrentam a perspectiva de serem lançados de volta às condições sofridas por seus avós.

O que a citação acima do professor não entende é que os trabalhadores não começam com a ideia de que a revolução é o único caminho.

Eles começam com a ideia de oposição aos ataques sobre os salários, condições e bem-estar.

Esperam que uma solução seja encontrada dentro do próprio sistema.

Eles sonham em retornar ao período do boom, quando as reformas eram possíveis, quando a vida parecia tolerável.

Mas a questão que tem de ser sublinhada é que todas essas esperanças serão despedaçadas pela realidade.

A instabilidade política se espalha por toda a Europa e além – na América, no mundo árabe, na África e na Ásia – e se expressa na volatilidade eleitoral.

Partidos antes poderosos, como o PASOK na Grécia, foram esmagados pela pressão da situação. Os trabalhadores estão votando contra qualquer governo que realize medidas de austeridade. Isto significa que os trabalhadores sabem o que não querem. O problema é que eles ainda não descobriram o programa e as políticas que podem combater a austeridade.

Os marxistas sempre falaram a verdade, mesmo quando é difícil de engolir: não há nenhuma solução para o problema que os trabalhadores e os jovens do mundo inteiro enfrentam dentro das fronteiras do sistema capitalista.

Enquanto o poder estiver nas mãos da classe capitalista, ela o usará para manter sua riqueza e privilégios à custa do povo trabalhador. O sistema não pode ser reformado; ele deve ser removido.

Como afirmou o autor do artigo em Time Magazine, “Se os estrategistas políticos não descobrirem novos métodos de garantir oportunidade econômica, os trabalhadores de todo o mundo podem se unir. Marx ainda pode obter sua vingança”.

Acreditamos que Marx estava correto não apenas em sua análise econômica, mas também em suas conclusões políticas.

A crise do sistema inevitavelmente conduz os trabalhadores a tirar conclusões revolucionárias. O que se requer é uma mudança radical das organizações de massa da classe trabalhadora, de seus partidos e sindicatos. Os atuais líderes esperam que esta crise seja afastada e que, mais cedo ou mais tarde, eles possam retornar às confortáveis relações que eles estabeleceram com os patrões no passado. Isto é, uma quimera.

O que enfrentamos são anos de austeridade, com o declínio dramático dos níveis de vida em todos os cantos.

No momento em que se tornar claro que esta crise não está indo embora depois de um curto período de austeridade, no momento em que ficar claro que este sistema não oferece nenhum futuro, então o único caminho será em direção à derrubada revolucionária de todo o sistema.

É para onde a presente situação está levando.

(*) NOTA DO EDITOR: Sobre o conceito de resiliência
Este conceito foi elaborado para definir a capacidade de superar problemas em situações críticas.

Segundo o dicionário Aurélio, é a propriedade de pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal de formação elástica. Este conceito é trabalhado nas mais diversas áreas das ciências como física, psicologia etc.

Pensamos numa bexiga cheia de ar, por exemplo. Apertamos e ela entorta. Quando soltamos ela volta ao normal. Isto significa sua capacidade de resiliência. Mas sabemos que isso também possui um limite. Pois se pegamos a bexiga e apertamos com muita força, certamente ela vai estourar. Nesse momento dissemos que a bexiga perdeu sua capacidade de resiliência.

Outro bom exemplo na ecologia. Chamamos de resiliência ambiental a capacidade de um ecossistema retonar a sua forma normal após uma perturbação. A isso definimos como grau de resistência do ecossistema. Ou seja, uma mudança para que os impactos a um ecossistema não se converta numa situação irreversível. Caso o impacto supere sua capacidade de resiliência ambiental, chamamos de processo de degradação.

E nesta etapa só uma ajuda externa, no caso, através de técnicas de recuperação de áreas degradadas, é que o ecossistema pode retornar a sua forma anterior. Pois sozinho, sem ajuda humana, ele não poderá mais retornar ao normal, já que os impactos que recebeu ultrapassaram sua capacidade de resiliência.

Nesse sentido, Fred Weston, autor do artigo, utilizou muito bem o conceito de resiliência para defender a vitalidade das ideias de Marx. Mostrando como suas ideias econômicas e conclusões políticas são capazes de se reivinventar e ainda se manterem firmes, sem abalos.

Artigo do site da Corrente Marxista Internacional. Para ler o texto original "The resilience of the ideas of Karl Marx", clique AQUI.

Fonte:

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Uma filosofia para transformar o mundo

25/02/2013 - Jean Salem (*), uma filosofia para transformar o mundo
- Milton Pinheiro (**), de Paris (França) para a revista Brasil de Fato
- Tradução: Ernesto Pichler

Jean Salem é um daqueles intelectuais humanistas, cada vez mais raros, que são homens de cultura integrada”.

O elogio desferido por Miguel Urbano Rodrigues aconteceu em outubro de 2012, ao comentar o lançamento da edição portuguesa do livro "A Felicidade ou a Arte de Ser Feliz Quando os Tempos São Difíceis", do escritor francês.

Lutar pela felicidade, de acordo com Salem, também autor de "Lênin e a Revolução", é um dever em meio à escalada da barbárie capitalista.

Filho do revolucionário e escritor Henri Alleg, o filósofo escreve artigos para diversos jornais franceses e estrangeiros.

Quanto às lutas concretas em que se envolve, elas visam essencialmente, segundo ele, à reconstrução de um movimento autenticamente revolucionário na França e no mundo.

Ao Brasil de Fato, Salem lança luz sobre o que foi a França de Nicolas Sarkozy e o que é a de François Hollande (ao lado com Dilma).

Tece considerações acerca das lutas sociais na Europa que pecam por falta de coordenação política.

Fala da imagem midiática do Brasil na Europa, mas enfatiza a visão segundo a qual ele, de fato, nos compreende.

Brasil de Fato – Você é um filósofo que estuda os materialistas na filosofia grega e romana; marxista ligado às lutas dos trabalhadores em seu país e no mundo, a exemplo de seu apoio ao MST no Brasil, foi sempre vinculado às ideias comunistas. Quem é o intelectual orgânico Jean Salem, sua história e suas lutas?

Jean Salem – Tenho, de fato, dedicado uma dúzia de anos e mais de uma dúzia de livros a estudar de maneira intensa o materialismo antigo: aquele de Demócrito, de Epicuro e de Lucrécio.

No meio dos anos de 1980, enquanto tudo parecia colapsar ao lado dos Partidos Comunistas da Europa, e do “socialismo real”, eu decidi enfrentar os trabalhos acadêmicos sobre esse assunto.

Mais que compor uma milésima tese sobre Marx, eu tentei (como o próprio Marx em sua tese de doutorado) conhecer mais de perto esses autores que ousaram enfrentar os preconceitos religiosos e que já estavam decididos a levantar um canto do véu, ou seja, a propor uma visão racional de tudo o que nos cerca. Uma visão que permanece compatível com a ciência moderna.

Tenho também dedicado leituras a Maupassant, à Renascença italiana, à felicidade e tenho organizado diversos livros de filosofia e de lógica matemática.

Agora, você me pergunta sobre minhas lutas. Elas são muitas: eu me encontro na Coréia, em Portugal, na América Latina,  em congressos ou reuniões animadas pelos progressistas. Tomando o cuidado, sempre, de não cair no que eu chamaria de “jet-altermundismo”: muitos se perdem nele, outros aí se corrompem.

O projeto de Sarkozy, completamente enquadrado na ação imperialista pelo mundo, em especial no norte da África, foi derrotado eleitoralmente. Mas como fica a França com François Hollande?

É evidente que Sarkozy (ao lado com Angela Merkel) encarnou um estilo de chefe de Estado de cultura medíocre, vulgar até, rompendo com a tradição de uma França onde, durante longo tempo, se quis crer que os notáveis deveriam aparecer como mais que simples representantes do meio de negócios.

Sarkozy, que se vangloria de o denominarem “Sarkozy, o americano” [entenda-se, dos EUA], tudo fez para alinhar a política francesa com a da Casa Branca.

Antes mesmo de assumir a presidência da república, em maio de 2007, [ainda que já ocupasse o cargo de Ministro do Interior] frequentava assiduamente a embaixada americana em Paris.

E ele não hesitava em criticar a posição oficial da França – da França que em fevereiro de 2002 vetou, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a tentativa dos EUA aprovar a invasão do Iraque. Teve papel auxiliar nas guerras empreendidas pelo império no norte da África.

Quanto à política interna, Sarkozy tentou limitar o direito de greve, “reformou” as aposentadorias, inflou os sentimentos xenófobos e exacerbou a psicose da delinquência, assim como os temores mais primitivos. Promoveu uma redução das despesas públicas que desmantelou a saúde pública, desorganizou a Universidade, oprimindo-a cada dia mais.

O governo François Hollande, o que mudou? Muito pouco.

Mas a única medida, a única, que parecia fazer pender um pouco à esquerda o seu governo foi a tentativa de taxar em 75% os ganhos suplementares de uma pessoa rica, o que geraria pelo menos 100 milhões de euros de receita.

Mas essa medida foi declarada inconstitucional por um dos bastiões do conservadorismo: o Conselho Constitucional.

Quanto à atitude francesa face à situação na Síria, ela foi mais extrema e unilateral do que Obama!

Eis que a pequena guerra levada pelo senhor Hollande ao Mali vem completar o quadro de comportamento dessa esquerda de direita, essa “esquerda” que parece cada vez mais à direita.

Quais são as lutas que têm pautado os trabalhadores franceses e europeus?

As lutas existem, é claro. Ainda que elas se “beneficiem” de um impressionante silêncio midiático. Elas se dão “com as costas na parede”, como dizemos em francês.

Os trabalhadores da PSA Peugeot Citroën, em Aulnay, na periferia de Paris, fizeram greve para protestar contra o plano de licenciamento que os ameaça. E a direção da fábrica recorreu ao lock out, ou seja, ela fechou provisoriamente as portas!

Mas as lutas seguem, bem e belas, eu repito!

Em maio de 2012 os portugueses pararam massivamente; a Itália conheceu uma greve geral acompanhada de manifestações impressionantes;

os gregos foram às ruas contra os planos da União Europeia e do FMI;

os jovens na Espanha e os “indignados” em geral conseguiram que falassem deles, tanto pela ação surpresa, quanto por surpreender os sindicatos, que estavam muito ocupados em negociar uma redução da idade de aposentadoria a fim de assegurar a “paz social” visando tranquilizar “os mercados”.

A questão não é tanto de ausência e lutas, mas de falta de coordenação, de perspectiva: nós estamos morrendo, literalmente, por falta de organização, por ausência de um partido digno de seu nome!

Como professor da Sorbonne, você tem sido responsável por um ciclo de cursos sobre o marxismo. Quais são as presenças mais importantes de teóricos desse campo de pensamento?

Nós lançamos em 2005 um seminário intitulado “Marx no século XXI”, na Sorbonne. Para afirmar ali a presença do marxismo, que diziam morto há tempos.

A ideia que preside a apresentação desse seminário era um pouco análoga àquela que conduziu Lênin a fundar seu jornal Iskra, um jornal destinado a reunir, a agrupar mil energias até então dispersas na Rússia dos czares.

Para nós, se trata de convidar todos aqueles que trabalharam, ou pensavam trabalhar, “no seu canto”, isoladamente, nas condições atuais de pesquisa na França e no exterior: pois, aqui, particularmente, as pesquisas marxistas foram durante longo tempo marginalizadas, senão censuradas.

Claro que a vinda de Domenico Losurdo, Enrique Dussel, David Harvey, ou a de Georges Labica, André Tosel, Daniel Bensaid, Michel Löwy, Slavoj Zizek, etc., constituíram grandes momentos do seminário!

Você é um intelectual acadêmico vinculado ao pensamento marxista e comunista com uma importante história de vida: é filho do legendário comunista Henri Alleg (foto). O que você nos diz sobre a vida deste revolucionário internacionalista?

Meu pai nos deu a imagem de um homem que triunfou sobre seus torturadores, redigindo um livro, A Questão.

Ele os denunciou e fez saber, a todo mundo, qual era o método ao qual se costumava recorrer na Argélia durante a guerra colonial; e que a história e as lutas dos povos demonstraram que o sistema colonialista, inelutavelmente, deveria colapsar.

Henri Alleg é filho de uma inglesa e de um polonês, judeus, que se encontraram em Londres e vieram para Paris. Mas ele se apaixona pela Argélia, onde se fixa.

Depois de ser militante e membro do Partido Comunista argelino, ele se torna, em 1950, diretor do jornal Argélia Republicana, onde militou em favor da independência.

E é como jornalista comunista que sofreu as perseguições e as torturas durante anos de prisão, e depois [após sua fuga] enfrentou o exílio nos países socialistas.

Meu pai seguiu seu combate internacionalista trabalhando como redator, e depois como secretário geral do jornal L’Humanité. De suas grandes reportagens na China, nos EUA, na União Soviética, em Cuba, ele extraiu numerosos livros. O último é seu livro de memórias, "Memória argelina", publicado em 2005, pela editora Stock.

Como intelectual e militante comunista você deve viajar por várias partes do mundo. O que nos diz sobre as lutas dos trabalhadores? Há algo de novo no front?

Sim, tenho tido a felicidade de ser convidado por universidades em todo o mundo. E tenho participado de muitas reuniões, algumas vezes acadêmicas, porém mais frequentemente políticas. Isso abre horizontes à reflexão.

Na China pude constatar que o problema da poluição nas cidades não se reduz, nem um pouco, a um tema de propaganda inventada pelas redações ocidentais.

Vi também o extraordinário progresso desse país, que o Império cerca de maneira já ameaçadora.

Na Rússia se pode ver os efeitos do capitalismo selvagem imposto a partir do golpe de 1991: lojas abertas 24 horas por dia, sete dias por semana; reino do business e da corrupção generalizada; desigualdades ainda mais gritantes que na França, etc.

Mas eu fiquei impressionado, recentemente, pela seriedade e organização dos camaradas coreanos, que organizaram em setembro último, em Seul, um importante fórum internacional.

Eles estão lidando com um modelo quase acabado de “democracia” completamente formal: uma lei dita de “segurança nacional” (que durante muito tempo era chamada simplesmente de “lei anticomunista”) permite, de fato, que o governo jogue na cadeia qualquer um que diga uma palavra que seja a favor da reunificação com o norte, qualquer um que denuncie o sistema de forma um pouco mais radical.

Pude ver, nesse país longínquo (que a China e o Japão nos fazem quase esquecer), homens e mulheres dos quais a determinação, a coragem e a qualidade humana me lembraram as belas figuras de comunistas que, na minha juventude, eu admirava.

Como analista de profunda convicção internacionalista, qual a sua análise sobre o Brasil e qual a mensagem que você deixaria para aqueles que lutam pela emancipação humana, em nosso País?

Dei aulas, durante algumas semanas, na USP, e dei algumas conferências na Universidade São Judas Tadeu. Foi em 2007. Devorei sua literatura (Machado de Assis me agrada tanto quanto Sterne e certos romancistas franceses que, como Crébillon, por exemplo, eu aprecio particularmente).

Sem querer dar lições e menos ainda ser um intelectual que emite julgamentos sem conhecer grande coisa sobre o que fala, o que eu posso dizer é que a imagem “midiática” do Brasil mudou radicalmente nos últimos 20 anos.

Do Brasil dos trabalhadores superexplorados, que durante muito tempo nosso imaginário ocidental prontamente reduzia ao Nordeste, e a sua miséria apavorante, do Brasil que era descrito, por exemplo, em Cacau, de Jorge Amado, passamos a um Brasil que nossas mídias apresentam como um país em pleno progresso, como um gigante em formação, como um “concorrente” muito sério para as economias cambaleantes da velha Europa, e etc.

Essa evolução foi acompanhada por uma unanimidade alardeando sem qualquer nuance a política do governo Lula.

Quando o Tesouro estadunidense, os grandes bancos de negócios e as agências de classificação dirigem louvações a vocês, é normal que a mídia do sistema trate o Brasil com uma deferência entusiasta.

Já a questão da corrupção foi enfocada de passagem por nossa mídia oficial.

Em compensação, se fala muito pouco, na Europa, das desigualdades abissais que subsistem no Brasil.

(*) Jean Salem é filósofo, militante das lutas anticapitalistas e comunistas, estudioso da filosofia materialista greco-romana, professor da Universidade de Paris I (Sorbonne), onde coordena o seminário “Marx no Século XXI” e é diretor do Centro Para a História do Pensamento Moderno.

(**) Milton Pinheiro é Professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e editor da revista Novos Temas.

Fonte:
http://www.brasildefato.com.br/node/12085

PS Educom:
"Isso abre horizontes à reflexão", garante o autor. Lido o artigo, que tal darmos uma espiada para o universo desses brasis afora? "A questão", prossegue ele, "não é tanto de ausência e lutas, mas de falta de coordenação, de perspectiva: nós estamos morrendo, literalmente, por falta de organização, por ausência de um partido digno de seu nome!"

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Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Escola Florestan Fernandes faz 5 anos e luta para continuar transformando o Brasil pela educação

Por Rodrigo Brandão, da equipe do Blog EDUCOM, de Guararema (SP)
Ao receber sábado, dia 6, centenas de sem terra, militantes de diversos movimentos sociais do Brasil e da América Latina, intelectuais, professores universitários, políticos de esquerda, juízes de direito, advogados, juristas, jornalistas e personalidades da sociedade brasileira para celebrar cinco anos de existência, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) lançou um apelo, durante ato público (foto) na plenária de seu campus, em Guararema (SP): está lutando para continuar aberta e para isso precisa da ajuda de todos nós. Continuar funcionando, para a ENFF e para quem acredita em uma revolução socialista no Brasil, significa manter vivo o sonho da transformação, da verdadeira democracia e da emancipação do povo brasileiro.

Em dezembro, foi criada a Associação dos Amigos da ENFF, uma organização formada por dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ativistas de outros movimentos sociais, intelectuais e professores que hoje lecionam voluntariamente na Escola, mantida com sacrifício pelo MST e seus parceiros desde 2005. A Associação vai lutar durante todo o ano de 2010 para angariar apoio político e financeiro, na tentativa de permitir a continuidade do projeto. Sediada numa área de Mata Atlântica nativa de 12 hectares, a 65 quilômetros da cidade de São Paulo, a ENFF tem 2.400 metros quadrados de sua planta ocupados por edifícios pedagógicos, salas de aula para mais de 200 pessoas e biblioteca com 40.000 títulos. Mais de 1.000 sem terra e militantes de organizações do Brasil e do mundo já passaram por seus mais de 14 cursos superiores (como Agroecologia, Agronomia, Geografia, História, Letras e Administração), 8 de pós-graduação (entre os quais Filosofia, Educação de Jovens e Adultos e Mestrado em Sociologia Rural), além de 6 cursos técnicos e 8 cursos livres.

“Estamos interrompendo a tradição de continuidade da opressão, que se manifesta na mídia, na educação tradicional, de corte capitalista”, pontuou na cerimônia de aniversário Ademar Bogo, integrante da Direção Nacional do MST e diretor da Florestan Fernandes. Segundo Bogo, a educação do MST “não separa o dirigente, o militante e o formador de quadros. É a militância, a prática da luta de classes que apresenta as contradições e a necessidade da formação. Organizamos os trabalhadores para lutar pela superação dos problemas da sua vida cotidiana e despertamos em cada um a necessidade de estudar, de refletir, de se aprimorar. Porque a exigência diária do nosso direito à terra e à dignidade é que nos leva à necessidade de se formar. A ENFF permite que os militantes que aprendem na praxis e apenas ouviram falar de Marx, Lênin, Che Guevara e outros grandes revolucionários e pensadores comunistas possam se encontrar em nosso campus e aprender mais sobre eles”, disse Bogo.

Dois intelectuais que lecionam na ENFF completaram a mesa de debates do seminário “O papel da formação política e ideológica no atual momento histórico: desafios e possibilidades”. Eles representaram simbolicamente os mais de 500 professores-voluntários dos cursos de graduação, pós-graduação e técnicos ministrados na Florestan. A filósofa e educadora cubana Isabel Monal fez um balanço atual e um histórico das lutas dos movimentos populares na América Latina. O educador e historiador Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, destacou a importância de a ENFF trazer um novo modelo de educação, que rompe com os espaços-salas de aula da escola capitalista. Freitas notabilizou-se por publicar estudos sobre a política pública de educação dos primeiros anos da Revolução Russa de 1917.

Participe da Associação de Amigos da ENFF
Após o seminário, o intelectual Paulo Arantes transmitiu o cargo de presidente da Associação dos Amigos da ENFF ao jornalista José Arbex Jr. Arbex fez um balanço dos primeiros movimentos da Associação e apresentou as metas do projeto, destacando que a ENFF buscará apoios em duas frentes: política e financeira. Cada um dos presentes recebeu dos representantes da Associação de Amigos este comunicado, com recomendação de que fosse distribuído e propagado ao máximo. Leia:

Participe da Associação de Amigos da Escola Florestan Fernandes

Prezado(a) companheiro(a),

Vivemos hoje um momento de festa e de luta.

Festa porque a Escola Nacional Florestan Fernandes completa o seu quinto ano de existência com um histórico pleno de realizações importantes que nos enchem de orgulho e alimentam nossa disposição de prosseguir na empreitada.

Luta porque os setores mais reacionários e conservadores do Brasil estão ampliando sua escalada de ataques aos movimentos sociais e às organizações dos trabalhadores, especialmente o MST. As críticas dos meios de comunicação de massa são constantes e cada vez mais violentas e virulentas. Refletem o ódio, o preconceito e a deliberada intenção das classes dominantes de impedir que os trabalhadores sejam autores soberanos do seu próprio caminho.

Precisamente neste momento de festa e de luta, resolvemos criar a Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes. Nossa ambição é conquistar o máximo de apoio junto aos setores da sociedade que se disponham a contribuir para o fortalecimento, ampliação e desenvolvimento das atividades de formação da nossa Escola. Este apoio é um ato político da mais alta relevância porque expressa o nosso repúdio à campanha de criminalização dos movimentos sociais orquestrada pela mídia em aliança com o grande capital, como também expressa a nossa mais profunda solidariedade às atividades da Escola, neste momento em que ela mais precisa de nós.

É com este espírito que nos dirigimos a você! Venha fazer parte da nossa associação! Você pode contribuir com uma taxa de R$ 20,00 (vinte reais) mensais e, se quiser assumir um encargo maior, pode aderir às contribuições solidárias. Aproveitamos para convidar todos os associados, especialmente os que já fazem parte do quadro de professores e de colaboradores da Escola, para que se integrem ativamente às atividades da nossa Associação; precisamos da sua ajuda para a elaboração de propostas, para a organização de eventos, de atividades de solidariedade, sugestões, críticas etc.

Nosso primeiro objetivo é conquistar 500 adesões até o final de fevereiro e acreditamos que vamos conseguir superar esse número, que é o mínimo necessário, embora longe de ser suficiente, para assegurar o desenvolvimento do nosso plano de trabalho ao longo de 2010.

Caso você concorde e queira se associar, por favor, procure a secretaria executiva através dos telefones: (11) 3105-0918, 9572-0185 e 6517-4780 ou do correio eletrônico: associacaoamigos@enff.org.br.

Contamos com você na Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes!
Venha nos ajudar a ampliar nossas forças e a aprofundar nossa frente de lutas e de festas.

Conselho de Coordenação
José Arbex Júnior
Maria Orlanda Pinassi
Carlos Duarte

Conselho Fiscal
Caio Boucinhas
Delmar Mattes
Carlos de Figueiredo

Secretaria Executiva
Magali Godoi

Rua da Abolição n° 167 - Bela Vista - São Paulo – SP – Brasil - CEP 01319-030 - Telefone: (55-11) 3105-0918 - Correio eletrônico: associacaoamigos@enff.org.br