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domingo, 6 de junho de 2010

Aquífero Alter do Chão pode ser entregue a pesquisadores estrangeiros

*Por Zilda Ferreira

O aquífero Alter do Chão pode ser o maior do mundo em volume de água, anunciava, em abril deste ano, o geólogo Milton Matta da Universidade Federal do Pará (UFPA) aos jornais brasileiros, à mídia européia e à TV Globo. Um estudo preliminar aponta um volume superior a 86 mil quilómetros cúbicos de água, o suficiente para abastecer a população mundial por 100 (cem) anos. Para se ter um ideia, o Aquífero Guarani, tido até agora como um dos maiores do mundo, tem um volume estimado de 45 mil quilometros cúbicos, ressaltava o professor Milton Matta, um dos cinco pesquisadores responsáveis pelo estudo.

A abrangência deste aquífero é genuinamente nacional, pois ele se estende pelo oeste da amazônia brasileira, nos Estados do Pará, Amazonas e Amapá. Entretanto, para que se possa afirmar com precisão sua extensão é necessário um estudo mais aprofundado. Mas, há poucas dúvidas de que não seja o que possui o maior volume de água, uma vez que está abrigado debaixo da maior bacia hidrográfica do mundo, a amazônica. (Veja a entrevista exclusiva do professor Milton Matta, no final, confirma que a ANA -Agência Nacional de Águas- pretende abrir licitação internacional para pesquisar o Aquífero Alter do Chão e, possivelmente, entregar a grupos estrangeiros).

Alter do Chão, vila balneário, que nominou esse aquífero que foi descoberto na localidade, fica às margens do Rio Tapajós, a 30 quilometros de Santarém, no oeste do Pará. Em abril de 2009, o jornal inglês The Guardian destacava como a melhor praia do Brasil. O lugar realmente é lindo. E agora, a mídia nacional e européia anunciam como a região mais rica de água do planeta. O príncepe Charles, da Inglatera, passou quase um mês na Flona do Tapajós, que fica na região do Aquífero.


BREVE HISTÓRICO SOBRE O AQUÍFERO ALTER DO CHÃO

O Aquífero Alter do Chão foi descoberto em l958 pela Petrobrás, quando perfurou Alter do Chão à procura de Petróleo, informou o professor de geografia Daniel Lima Fernandes. E para comprovar sua afirmacão, ele nos forneceu o “Estudo Primaz Alter do Chão”, do qual participou pela secretaria de Planejamento da Prefeitura de Santarém, em l996, coordenado por uma equipe de geólogos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais- CPRM. Esse Estudo já citava a tese (no prelo) de doutorado - “Recursos Hídricos Subterrâneos de Santarém”- do pesquisador Antonio Carlos F.N.S. Tancredi, da UFPA, onde registrava que os dados hidrológicos levantados pela equipe do Primaz, na área urbana de Santarém, se referiam basicamente ao sistema aquífero de formação Alter do Chão. Essa história foi confirmada por dona Terezinha Lobato da Costa, 75 anos, de origem Borari, que nasceu e sempre morou em Alter do Chão. “Eu conhecia bem o pessoal da Petrobrás, que esteve aqui de l953 até 1958.”

Além do Estudo Primaz, há pesquisas feitas pela comunidade acadêmica da Universidade Federal do Pará e também pelo INPA, desde a década de 60. Em 1996, o professor Antonio Carlos F.N.S. Tancredi do Centro de Geociências da UFPA, curso de Pós-graduação em Geologia e Geoquímica, apresentou a tese para obtenção do grau de Doutor em ciências, na área de geoquímica “Recursos Hídricos Subterrâneos de Santarém” que destaca o sistema hidrológico da Formação Alter do Chão com detalhes, onde ele enfatiza o seu potencial.

O acesso a essa tese foi possível graças à coordenadora da Biblioteca Comunitária “Oca do Saber”, Vandria Garcia Corrêa, do grupo Vila Viva em Alter do Chão, que nos enviou a mesma por email. Ainda este mês, contaremos outras estórias de ajuda que tivemos: falaremos do ponto de cultura digital Puraqué, nosso porto seguro em Santarém, principalmente pelo apoio do casal Jader e Adriane Gama e também do pessoal da Casa Brasil, e contaremos um pouco sobre a Escola Índígena Borari de Alter do Chão.

De modo geral, a população da região de Santarém só soube do potencial de água do Aquífero Alter do Chão pela TV Globo, este ano. As pessoas se sentiram traídas e desrespeitadas, pois o problema de falta d`água em Santarém é crônico há décadas. Estão em cima de um tesouro, que nem sempre têm acesso. Além disso, receiam que essas riquezas sejam apropriadas pelos estrangeiros. Há comentários de que a ANA –Agência Nacional de Águas – pretende abrir licitação internacional para pesquisar o Aquífero Alter do Chão, e assim, entregaria aos estrangeiros esse tesouro da Amazônia.

TEMOR E MEDO

Historicamente, o maior temor deveria ser aos franceses devido à proximidade com a Guiana Francesa e também pela força das companhias francesas no mercado de águas: Vivendi Universal e Suez detêm 70% desse mercado no mundo. Mas como no tempo da colonização portuguesa, os ingleses avançaram antes dos franceses: HSBC- Hong Kong and Shangai Banking Corparation, o maior banco do mundo com sede em Londres, já está em Alter do Chão. O Banco financia atualmente dois projetos da Ong Vila Viva. Os alemães já fincaram os pés na região de Santarém há mais tempo, principalmente através da Fundação Konrad Adenauer.

O professor Edilberto Ferreira da Costa, formado em letras e pesquisador de folclore, de origem indígena Borari, disse que agora, o Eldorado dos europeus é a região do Alter do Chão, pois eles não buscam mais ouro amarelo, querem o ouro azul, a água.

- Não é à toa que o príncepe Charles veio aqui. Antes vieram muitos cientistas, principalmente europeus. Em l852 Henry, Wallter Bates passou nove dias em Alter do Chão. A minha maior honra é ser o primeiro, nascido em Altler, a escrever sobre a história da Vila. Tudo na nossa cultura gira em torno da água. Pode ler nesse meu livro, “O Berço do Çairé”, grafada Sairé no dicionário, o que já contestei, na Academia Brasileira de Letras, pois a palavra é indígena e o som é aberto de (Ç). O Boto Tucuxi é a Ópera das Águas. É interessante observar que o Aquífero Alter do Chão tem a mesma abrangência do çairé(sairé), oeste amazônico. E há evidências científicas de ele seja o maior do mundo.

Outro fato que merece destaque é a pregação do cientista político alemão Michael Dutschke, autor de um dos capítulos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC – defendendo internacionalização da Amazônia, noticiava a Folha do Meio Ambieente, em novembro de 2007, quando ele esteve no Brasil.

O Tratado de Lisboa, ou Tratado Reformador, que emenda os anteriores, foi assinado em 2007 e entrou em vigor em dezembro de 2009, pouco antes da Conferência de Copenhague, destaca que a luta contra as alterações climáticas e o aquecimento global são objetivos da União Européia. Há denuncias de que esse tratado é intervencionista e o alvo é a Amazônia.

ALERTA

Darciley Viana de Vasconcelos, líder comunitária, tomou conhecimento do Aquífero há 10 anos, através de um pesquisador do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, mas não tinha dimensão do potencial do Aquífero Alter do Chão.

- Agora, a divulgação assusta e pode acelerar a privatização de nossas riquezas, a terra, mas, principalmente, a água. Aqui é uma comunidade tradicional de origem indígena Borari. E como se sabe, índio, normalmente, não tem documento da terra e por isso, alguns já foram expulsos e tiveram suas casas queimadas. O problema fundiário está se agravando e eu gostaria de fazer parte do MST, porque eles são organizados. Na minha opinião, a denuncia da Revista Veja de que há falsos índios em Alter do Chão é um alerta do que vem por aí. É preciso que o governo assegure aos habitantes do lugar o que eles têm direito, concluiu Darciley Viana depois de lamentar a situação precária dos índios para enfrentar a especulação imobiliária.

LEIA ABAIXO ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O PROFESSOR MILTON MATTA

Há quanto tempo o senhor e a equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) estudam o Aquífero Alter do Chão?
O Aquífero Alter do Chão, já nosso conhecido e de toda a comunidade científica da Amazônia, desde a década de 60, mas ninguém jamais expressou vontade de estudar isso de forma sistemática. Eram somente poços isolados que abasteciam comunidades específicas. Meu grupo de pesquisa, depois que eu defendi minha tese de Doutorado, em 2002, e calculei a reserva hídrica de outro sistema aquífero (Aquífero Pirabas) resolveu investigar o Aquífero Alter do Chão mais de perto. Isso iniciou ano passado.

Como o senhor concluiu que havia a possibilidade deste Aquífero ter o maior volume de água do planeta?
Quando iniciamos o cálculo de sua reserva hídrica, percebemos que sua enorme espessura, extensão lateral e as propriedades hidrodinâmicas do aquífero, eram compatíveis com os números que foram divulgados.

Qual foi o volume estimado e qual a região de abrangência do Aquífero Allter do Chão?
O volume estimado é de 86 mil quilômetros cúbicos de água. O suficiente para; abastecer 31.4 trilhões de piscinas Olímpicas; 29.3 milhões de Maracanãs e 35.2 mil Baias da Guanabara e 8600 vezes o volume de óleo do Pré-Sal.

Porque a população de Santarém e da Vila Alter do Chão, ou seja, os paraenses de modo geral tomaram conhecimento do potencial deste Aquífero pela TV Globo?
Não sei. Quem liberou todas as notícias fui eu. E eu dei notícia pela primeira vez para uma jornalista do jornal Diário do Pará que deve ter pequena circulação na região de Santarém. Depois disso, a notícia se espalhou muito rápido por vários elementos da mídia, saindo em diversos idiomas, inclusive. Como a Rede Globo é a cadeia de maior penetração no Pará, pode ser que muita gente tenha sabido disso pela TV Globo.

Ninguém pode preservar aquilo que não conhece. Há perigo de poluírem essas águas. O senhor não acha que esta falta de conhecimento da população é uma falha da academia?
Porque da academia? A academia, por meu intermédio, estudou e divulgou o assunto. Mas não pode, não tem essa função e nem tem verba pra dar conhecimento disso à população.

Há muito medo da população da Vila de Alter do Chão que água do Aquífero seja privatizada. Essa preocupação tem fundamento?
Tem sim. Hoje não se tem qualquer controle sobre o que vai ser feito com esse aquífero. Não se tem nem planos pra uso e proteção de duas águas. Soube-se que a ANA vai divulgar um edital fazendo uma licitação internacional para contratar estudos sobre o Alter do Chão. Eu, particularmente, acho isso um absurdo. A licitação em si não teria sentido, uma vez que existe um grupo que o conhece, que o está estudando, que é da região e que por isso mesmo conhece as condições sócioeconômicas e políticas locais. Isso, associado à competência profissional desse grupo, sua vasta experiência na matéria, demonstrada pelos inúmeros trabalhos publicados nas últimas décadas sobre o assunto, já justificaria a não realização de licitação.

O senhor e a comunidade acadêmica da UFPA aprovam a proposta da ANA de abrir Edital internacional de licitação para pesquisar o potencial do Aquífero do Chão?
Já respondi parte disso na questão anterior. E não entendemos porque que a licitação teria que ser internacional. O Aquífero Alter do Chão é exclusivamente brasileiro e amazônico. O aquífero que é Transfronterisso, é o Guarani, esse sim, precisa de arranjo internacionais para seu uso e proteção, uma vez que passa por diferentes países.


*Zilda Ferreira esteve em Santarém e na Vila Balneário de Alter do Chão, durante uma semana, no período de 21 a 28 maio de 2010.

sábado, 29 de maio de 2010

A vergonha de ser um homem

Vocês que vivem seguros
em suas cálidas casas,
vocês que, voltando à noite,
encontram comida quente e rostos amigos,
pensem bem se isto é um homem
que trabalha no meio do barro,
que não conhece paz,
que luta por um pedaço de pão,
que morre por um sim ou por um não

(…)

Pensem que isto aconteceu:
e lhes mando essas palavras.
Gravem-na em seus corações,
estando em casa, andando na rua,
ao deitar, ao levantar
repitam-nas a seus filhos.
Ou senão, desmorone-se a sua casa,
a doença os torne inválidos,
aos seus filhos virem o rosto para não vê-los.

Primo Levi

1)A centralidade paradoxal da vida dos pobres nas metrópoles brasileiras: Biopoder versus Biopolítica

Como tudo no capitalismo, a favelização foi e é um processo contraditório. A chegada dos pobres nas cidades tem (pelo menos) dois grandes determinantes:

- o primeiro determinante é a persistência do latifúndio (inclusive graças à ditadura que reprimiu os movimentos camponeses e continua encontrando amplo apoio naquela mídia que lhe deve concessões estatais e proteção econômica), que expulsou a população rural do campo (do mesmo jeito que a abolição tardia da escravidão acabou empurrando os escravos libertos para a formação das primeiras favelas);

- o segundo determinante é o movimento de resistência que atravessou o país com o êxodo rural rumo a melhores condições de vida e trabalho, dentro do processo de urbanização e para além de sua capacidade de absorção industrial (da mesma forma que os quilombos, as favelas foram também zonas de autoconstrução de espaços urbanos de resistência, persistência dos pobres a viver, desejar, dançar, criar).

Assim, a fuga dos retirantes, a exemplo do Presidente Lula (o mais popular que o Brasil já teve e que proporciona ao país uma popularidade mundial sem precedentes) foi um movimento paradoxal: fruto de relações de poder iníquas (desiguais, racistas e neo-escravagistas) e, ao mesmo tempo, terreno de resistência, luta e invenção. As favelas (e as várias formas de ocupação ilegal, informal, desordenada do solo urbano – ou em via de urbanização) que constituíram nossas “pobres grandes cidades” são também o emblema dessa ambiguidade.

As favelas são, ao mesmo tempo, a vergonha de um poder que trata os pobres como lixo e o orgulho da resistência dos pobres que constituem tudo que é riqueza e valor do Rio de Janeiro e do Brasil. Elas são um estorvo que a elite neo-escravagista continua a sonhar em poder remover para a periferia, em tornar invisível. Mas, elas são também o espaço da dignidade das velhas e novas guardas de pobres que lutam e inventam, resistem e criam.

Em cidades como o Rio de Janeiro, mais do que em outras, as relações de poder e de produção atravessam e são atravessadas pelos embates que dizem respeito às favelas e aos pobres. O grande desafio do bloco de poder – uma mistura sui generis de elites arcaizantes bem representadas pelos grandes meios de comunicação, segmentos institucionais de tipo mafioso (ligados à corrupção e ao tráfico) e setores tecnocráticos (das grandes empresas e do aparelho do Estado) – tornou-se o de regular as vidas dos pobres por meio do controle do processo e do fenômeno de favelização. Por isso, esse bloco de poder se apresenta como um bloco de Biopoder, um poder organizado sobre a vida dos pobres. O grande desafio das lutas populares também passou a ser, com a abertura democrática, a organização dos pobres e a construção de uma forma de representação adequada a essa subjetividade social, uma subjetividade que se expressa e se constitui nas formas de resistência e construção da cidade pelos e para os pobres: nas favelas e nas várias formas de “informalidade”, quer dizer, nas formas de direito constituídas desde baixo, nas ruas, nas redes de socialização dos pobres, completamente separadas do formalismo jurídico do Estado.

A clivagem social e ética parece nítida: o poder, de um lado; os pobres do outro. Porém, uma vez traduzida em termos políticos, essa clivagem não se mantém mais. Os setores “progressistas” (modernizadores, poderíamos dizer) dos dois blocos (o da “direita” e o da “esquerda”) convergem numa visão negativa da pobreza e dos pobres; uma convergência que se traduz, por exemplo, no uso e no abuso – sempre pejorativo – do termo “populismo”. Os pobres são um problema, e se não aceitam as “soluções” tecnocráticas e burocráticas que os “governantes” pensam para eles, é que merecem mesmo a miséria na qual se encontram, e até o risco que correm por persistir em morar nos morros. Ou seja, são vidas que não merecem serem vividas! Emblemática a análise de André Singer (militante do PT) sobre o que ele chama de “lulismo”: um tipo de “bonapartismo” sustentado pela “base sub-proletária” que “não consegue construir desde baixo as suas próprias formas de organização”1.

No Rio de Janeiro, essa “direita” e essa “esquerda” constituíam (e, em parte ainda constituem) as duas faces de uma mesma moeda: a classe média e alta carioca, os ricos, e boa parte do funcionalismo público. Não por acaso, essa convergência aconteceu de fato em 1994, por ocasião de uma “com-juntura” (junção de duas “urgências” = conjuntura) favorável a essa inflexão: por um lado, a necessidade – da parte do poder – de evitar por todos os meios que a experiência operária do PT paulista se radicasse no Rio a partir da vitória eleitoral de uma mulher, negra e favelada (a Benedita), implementando um PT realmente carioca (um PT dos pobres); pelo outro, a opção pelo oportunismo de um político egresso do brizolismo.


Leia a íntegra: http://www.revistaglobalbrasil.com.br

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Como se prepara uma conquista

Por Mauro Santayana

Desde que existem fronteiras, existem guerras. As guerras se fazem sobre as fronteiras, para que se abram aos invasores. Ao se abrirem, deslocam-se, em favor dos que vencem, cujo espaço se vê ampliado. Há as fronteiras físicas, eventualmente com suas fortalezas e seus obstáculos naturais, e há as fronteiras morais. O povo invadido não se defende apenas com as armas, por mais poderosas sejam; defendem-se com sua bravura, sua honra, seu sentimento de fraternidade.

É natural que os homens morram na defesa de suas ideias e de sua dignidade, mas para isso devem nelas acreditar como alguma coisa maior do que eles mesmos. Nenhuma outra ideia, nenhum outro compromisso, é maior do que a ideia de pátria, que aceita e amplia o sentimento de família. O homem que morre na defesa de sua pátria, morre na defesa de seus filhos e de todos os filhos, de todas as mulheres, de todos os anciões de seu povo.

Por isso, a defesa é mais poderosa do que o ataque – como temos visto em todas as guerras. A defesa se transforma em ataque, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial. A resistência russa, nas portas de Moscou e na gesta desesperadora de Stalingrado, se converteu na cena orgulhosa do soldado que fixa a bandeira vermelha no alto do Reichstag, em Berlim.

As guerras não são fenômenos repentinos na História. Muitos estudiosos vão à mitológica Guerra de Troia, na versão de Homero, com seus paradigmas de astúcia, heroísmo, covardia e traições, para nela encontrar o exemplo clássico dessa patologia: todos os conflitos anteriores e todos os que se seguiram se explicam com a expedição de Agamenon, a astúcia de Ulysses, o inútil “corpo fechado” de Aquiles, com seu calcanhar vulnerável, a coragem de Ájax no confronto com Hector, a enigmática figura de Palamedes.

A guerra está presente em todas as comunidades humanas, seja na conquista ou na defesa. Um dia, se houver Deus, é possível que haja paz. Não tem havido paz. Assim, os agressores, mais do que pensar nas defesas físicas do presumido inimigo a ser conquistado, buscam atingir previamente sua armadura moral. Uma desmoralização fácil, e de que se valeram os nazistas, é a racial. Sendo diferente, o inimigo deve ser aniquilado: não faz parte da nossa espécie. Os mais velhos se lembram das histórias em quadrinhos americanas, nas quais os japoneses eram caricaturados como se fossem símios, e os alemães sempre obesos e embriagados. Para combatê-los, surgiu a nova mitologia dos super-homens, dos fantasmas-voadores, dos capitães-américa.

Depois de Avatar, de James Cameron, uma alegoria claramente identificada com a Amazônia, sua biodiversidade e seus minérios, a cineasta Kathryn Bigelow anuncia película a ser ambientada na Tríplice Fronteira. Alguns senhores, de curta inteligência ou de duvidoso patriotismo, saúdam a iniciativa, como promoção do turismo. Não percebem que se trata de abrir caminho a futura ocupação da área, anunciada durante o governo Bush, contra a soberania do Brasil, da Argentina e do Paraguai, a pretexto do “combate ao terrorismo”. Trata-se da construção de uma ideia da região, que nada tem a ver com a realidade, e da justificação subliminar para operações das Forças Armadas norte-americanas na área. Para isso, os ianques já construíram grande pista de pouso no Chaco paraguaio.

Os três governos atuam em conjunto para reforçar a vigilância nas fronteiras, contra o contrabando e o tráfico de drogas, além de outras formas do crime organizado. A eles cabe – e a ninguém mais – cuidar dos interesses comuns, na defesa da soberania de cada um de seus países e da paz para seus povos.

Os americanos se movem pela fé no Destino manifesto. Não se trata somente de política de Estado, mas de certa crença nacional, consolidada pelos meios de comunicação, a partir de Hearst e Pulitzer, e robustecida pela indústria cinematográfica, de que se imbuem cineastas como Cameron e Bigelow. Desde os gregos o entretenimento é instrumento de convencimento político. Temos todo o direito de recusar a entrada, em nossos países, dos que nos querem engambelar com a magia do cinema. Os colares de miçangas e os presentes de grego mudam de formato e de conteúdo, mas o propósito de conquista e domínio continua o mesmo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

FALTA DE ESCRÚPULOS – OS MENTIROSOS

Por Laerte Braga

Quando alguém assiste a um desses filmes de ação em que agentes norte-americanos saem pelo mundo afora matando e destruindo tudo e todos em nome da segurança dos Estados Unidos, de tal forma já se acostumou com essa forma de agir que não percebe que ali não existe crítica alguma ao terrorismo do império. O que há de fato é exibição de poder, demonstração de força, afirmação da lei do mais forte e por baixo dos panos, um constante processo de alienação que transforma atores como Silvester Stalone ou Bruce Willys em espécie de super homens.

No fundo o que sentimos é exatamente o que eles querem. Um misto de admiração pela boçalidade e a constatação interior que somos inferiores.

Os braços dessa forma de terrorismo são compridos, atuam em todo o mundo e recentemente um líder do Hamas foi assassinado em Dubai por agentes ecretos do MOSSAD – Israel –, todos com nomes falsos, passaportes britânicos, alemães e belgas e a despeito das promessas de apurar os fatos e adotar as providências cabíveis, tudo está do mesmo tamanho.

É estreita a colaboração entre essas organizações.

Na trilogia Bourne, história de um oficial norte-americano que entra para um projeto especial de eliminação de inimigos dos EUA em qualquer parte do mundo, um jornalista do jornal inglês THE GUARDIAN é assassinado pela CIA por ter descoberto o que não podia, não devia e não deveria ser publicado.

Eliminar o jornalista sugere que o jornal publicaria os fatos. É uma intenção clara e manifesta no filme. O jornalista é o culpado de sua própria morte por colocar em risco a segurança dos EUA . O jornal entra ali aparentemente de adereço. Para que se suponha que sendo livre a expressão não iria hesitar em denunciar os crimes do terrorismo oficial da CIA.

Nos tempos de George Bush isso vinha chancelado pelo ATO PATRIÓTICO. Uma espécie de AI-5 para os cidadãos de qualquer parte ou canto do mundo que viessem colocar em risco a democracia cristã, ocidental e capitalista.

Escorado nesse absurdo Bush encheu Guantánamo de inocentes. Sem preocupações com qualquer reação da opinião pública transformou a base militar em território cubano ocupado em campo de concentração.

Mas isso é por lá, por aqui as coisas são diferentes, pelo menos é o que parece, só parece. Agentes estrangeiros atuam em estreita colaboração com setores das forças armadas (brasileiras, será que são?) no que chamam vigilância sobre a colônia palestina no sul do País. Ao tempo de FHC chegaram a insinuar que Osama bin Laden lá estivera buscando recursos para seu grupo e cogitaram de instalar uma base militar de “cooperação mútua” mais ou menos eles comandam e o mútuo fica por conta da limpeza das latrinas).

Um dos braços mais importantes, se não for o mais importante desse processo de recolonização e que parte da busca da alienação plena e absoluta é a mídia. Não temos uma mídia independente, brasileira, o chamado exercício da livre expressão é apenas o direito da mentira repetida a exaustão, até que um apresentador de jornal de tevê possa referir-se ao telespectador padrão do dito jornal como “Homer Simpson”. O idiota de uma série da tevê dos EUA.

Os índices de audiência do dito jornal continuam altos e milhares continuam respondendo ao jornalista em seu twitter quando ele pergunta “quem quer um bom dia diga sim”. Mais ou menos como uma criança no zoológico, naquela linguagem de crianças – essas são inocentes – exibe uma banana ao macaco.

Os impérios se sustentam na exploração de povos que oprimem, dominam ou alienam. Alienar pode significar algo como perder consciência de si próprio, aceitar transformar-se num objeto. Tem sido assim historicamente. Com os EUA não é diferente. As épocas é que são distintas e a forma de dominação obedece aos critérios do tempo e do espaço. Por exemplo, terceirizar as forças armadas, como acontece nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

Aquela história de “nossos rapazes” vira nossos mercenários”.

Os EUA hoje não são um país, tampouco uma nação. O modelo transformou-os numa empresa controlada por grupos sionistas (judeus fundamentalista/terroristas), banqueiros, grandes empresas e parceria com elites econômicas em todas as partes do mundo. No caso do Brasil, o conglomerado FIESP/DASLU, associação de supostos barões travestidos de comendadores e “patriotas”, todos gloriosos sonegadores e fraudadores de tudo quanto possa ser fraudado em benefício do lucro nosso de cada dia.

O entorno, ou seja, nós, mais ou menos como que numa máquina de moer carne. Vamos sendo moídos, moídos, até que imprestáveis, somos atirados a um canto qualquer de um almoxarifado qualquer. Um exemplo claro disso? O México e sua participação no NAFTA, tratado de livre comércio entre eles, os EUA e o Canadá. O México é o depósito de lixo.

Quem disse que os norte-americanos estão preocupados em acabar com o narcotráfico? Álvaro Uribe é o presidente da Colômbia e os bilhões de dólares do tráfico de droga vão parar nos bancos de grupos sionistas, europeus e norte-americanos. No máximo mantê-lo dentro de níveis aceitáveis, digamos assim. Estudos do próprio Pentágono mostram que a imensa maioria de soldados dos EUA usam drogas quando em situação de combate. Acaba sendo “necessidade” e fator de lucro.

Em todo esse processo há contratempos, lógico. De repente alguns povos se dão conta que são seres humanos, que têm um sentimento que os torna e forma parte de uma determinada nação e reagem.

No caso da América Latina governos eleitos pelo voto do povo como o da Venezuela, da Bolívia, do Equador, do Uruguai, do Paraguai, da Nicarágua, de El Salvador, além de Cuba (a propósito não noticiaram nada, mas domingo foi dia de eleição em Cuba) são transformados em veículos do terrorismo, contrários à democracia, risco para as liberdades.

Acionam todos os mecanismos de falta de escrúpulos para derrubá-los como fizeram com o de Honduras e transformam seus governantes em bandidos. Forjam um processo eleitoral e continuam prendendo, assassinando, torturando, tudo em nome das companhias que por lá estão.

A jóia da coroa na América Latina é o Brasil.

A perspectiva que possamos continuar de pé e buscando caminhos capazes de nos permitir a integridade do nosso território, a nossa soberania, liberdade e acima de tudo capacidade de sermos donos do nosso destino assusta os EUA.

Têm uma aposta num primeiro momento. José Collor Arruda Serra, retorno dos tempos de FHC.

Montaram uma coligação impressionante. O partido do candidato, PSDB, os principais meios de comunicação – GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA e outros de caráter regional), trouxeram a quadrilha DEM (latifundiários do transgênico nosso de cada dia), excluíram do noticiário pesquisas que não lhe agradam e forjam as que desejam vender aos Homer Simpsons, tocam o barco segundo planos e comando de Washington e Wall Street.

Nesta semana que chega ao fim, se tem falado muito do déficit de conta corrente do Brasil. O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meireles, veio a público explicar que não há problemas sérios.

Se existem ou não problemas sérios, essa não é a preocupação dos críticos do governo. O importante é deixar gravada na mente do Homer a expressão déficit. Sugere fracasso, incompetência e dá forças ao homem deles, José Collor Arruda Serra.

A história é outra. Ou os quinhentos são outros.

Três itens formam a conta corrente. A balança comercial (exportação versus importações). A conta de serviços (patentes, etc) e de rendas, ou seja, da circulação de dinheiro, empréstimos – entrada e saída –, pagamento de juros, REMESSA DE LUCROS, viagens e no caso das rendas, recursos enviados por brasileiros no exterior.

Não temos uma indústria nacional de veículos automotores. Abrimos mão ao contrário da Coréia, do Japão, dos países europeus, da China, da Índia.
Temos montadoras de empresas estrangeiras que usam componentes nacionais (fabricados por empresas estrangeiras) até um determinado limite e tecnologia (se paga por tecnologia) de outras empresas, de outros países, caso da CITROEN, que usa tecnologia em alguns itens desenvolvida em Israel.

FHC privatizou a EMBRAER quando a empresa era um êxito absoluto e hoje, no
caminho que estava, seria concorrente das grandes do mundo, inclusive na
fabricação de aviões de grande porte. Compramos submarinos nucleares
franceses quando dispomos de tecnologia para fazer tudo aqui. As verbas
foram sucateadas. A FAB fica sem voar, a não ser brincadeira, enquanto se
decide que empresa estrangeira vai nos fornecer aviões caças. Liquidaram a
IMBEL e a ENGESA quando o URUTU e o OSÓRIO competiam com vantagem sobre
similares estrangeiros. Votaram a lei de patentes para neutralizar qualquer
perspectiva de tecnologia sobre qualquer coisa e um grupo de espertalhões do Japão chegou a registrar o açaí.

A VALE, que quando VALE DO RIO DOCE era lucrativa e gerava tecnologias de
ponta no setor foi entregue a grupos estrangeiros e breve terá sua matriz na Suíça. É dona de parte do solo e subsolo do Brasil.

O Estado como instituição não tem que ter padaria. Mas os setores
estratégicos da economia são fundamentais. FHC tratou de rifá-los, é um
funcionário deles, Arruda Serra é o projeto para arrematar o processo.

A política externa do Brasil incomoda claro. Um desses remanescentes da era
jurássica, patriota por canalhice, no conceito de Samuel Johnson, referiu-se a Celso Amorim como “vá a m... Amorim”. Claro, ao contrário do antigo
ministro de FHC Celso Láfer, Amorim não tira os sapatos em um aeroporto em
New York e se deixa revistar pela imigração. Tem caráter, escrúpulos e
competência. Láfer nem sabe o que é isso. Um grito e tira os sapatos, cai de quatro.

Com a crise das montadoras norte-americanas e os meios adotados pelo
governo do Brasil (sem entrar no mérito) para evitar que a crise batesse
aqui, uma das razões do déficit de conta corrente é exatamente a remessa de
lucros para salvar a turma da matriz. Não foi só o dinheiro dado por Obama
não. O mundo dos países controlados pelo império pagou a maior parte da
conta e continua a pagar.

As medidas adotadas pelo governo brasileiro no auge da crise tiveram como
objetivo, por discutíveis que possam ser, evitar altos índices de
desemprego, entre outras coisas. O desemprego está em baixa.

Para os veículos de comunicação, a coligação PSDB/GLOBO/FOLHA DE SÃO
PAULO/VEJA/DEM, todos movidos por grandes capitais de empresas padrão
FIESP/DASLU, é preciso exibir a expressão déficit sem explicar que com eles
não haverá déficit, pois a escritura do Brasil será passada em caráter
definitivo e seremos BRAZIL.

Não têm escrúpulos, são mentirosos, não têm nada a ver nem com o Brasil e
muito menos com os brasileiros.

A opção é simples. Se vamos fazer como Celso Láfer, borrarmo-nos de medo e
tirar os sapatos, cair de quatro ou se vamos continuar de pé como Amorim.

Se de fato somos milhões de Homer Simpson, ou se somos sujeitos e donos de
nosso País, capazes de construir a nossa Nação.

Sabe quanto custa o curso da filha de Serra, por mês numa universidade
norte-americana? Sessenta dólares. Tem idéia do preço da mansão da moça em
Troncoso na Bahia (Serra passou o reveillon lá).

Li hoje e não duvido que, breve, se bobearmos, vamos pagar pedágio para
entrar em nossas próprias casas. Nossas? Será?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Futebol europeu (até a mídia brasileira!) usa mortes na Cabinda para atacar África

por Rodrigo Brandão, Equipe do Blog EDUCOM
Começou neste domingo, 10 de janeiro, a 27ª Copa Africana de Nações, reunindo as 16 melhores seleções de futebol do continente negro. Infelizmente, uma tragédia já marcou para sempre esta CAN. Na sexta, 8, um ônibus que transportava a delegação de Togo, do Congo – onde os togoleses se prepararam – a Angola, país-sede da competição foi metralhado por guerrilheiros da Frente de Libertação do Estado da Cabinda (FLEC), que há quase 35 anos luta pela independência do enclave angolano, situado entre o Congo e a República Democrática do Congo.

Três homens não sobreviveram aos disparos – o motorista congolês, além de um dos auxiliares técnicos e do assessor de imprensa da seleção de Togo – e o goleiro Kodjovi Obialé está internado em estado grave, correndo risco de sequelas motoras. Nossos sentimentos às famílias das vítimas e nossos melhores pensamentos com a delegação de Togo, que desistiu de jogar a CAN a pedido de seu governo. Chocante que os nomes das vítimas fatais não apareçam nos jornais e sites.

O que não se pode aceitar é que alguns se aproveitem do trágico atentado para atacar a imagem da África e do futebol daquele sofrido continente, como se um incidente como esse não pudesse ocorrer em qualquer parte do mundo, afetando um evento esportivo de tal magnitude. Por acaso na Grã-Bretanha e na Espanha também não há violentas lutas separatistas? Então como as Copas do Mundo de 1966 e 1982 puderam ser realizadas – em épocas nas quais as guerrilhas do IRA e do ETA eram mais atuantes, sendo ainda coadjuvadas por outros grupos igualmente violentos – e, tem mais, com vários jogos, no caso da Espanha, em cidades então turbulentas, como Bilbao e Barcelona? Como as Olimpíadas de 1972, em Munique, continuaram mesmo após a morte de dezenas de atletas israelenses feitos reféns por ativistas palestinos?

Clubes da Inglaterra, ao que parece, dão de ombros para esse chamado à coerência. Chelsea F.C e Portsmouth, que somados cederam sete jogadores a diferentes seleções classificadas para a CAN Angola-2010, pasmem, exigiram a devolução de “seus” atletas, os mesmos que, em sua maioria, foram comprados como mercadoria na feira ainda na pré-adolescência – quando algumas centenas de dólares são suficientes para seduzir famílias famintas – por essas megamultinacionais da bola. Vale lembrar que mais de 90% dos jogadores inscritos na Copa Africana de Nações são contratados de clubes europeus. E o que dizer da imprensa européia, se apressando em questionar até mesmo a realização da Copa do Mundo na África do Sul? Acaso a Europa esqueceu-se da enorme (enorme? Infinita!) parcela de responsabilidade na tragédia de violência, miséria e fome em que se transformou o continente onde praticamente nasceu a humanidade?

E, lamentável, setores da imprensa brasileira – até mesmo aquele canal de esportes que se orgulha de ser independente, politicamente correto e crítico, a ESPN Brasil – parecem ter comprado a tese de que africano não tem que se meter a organizar evento internacional! Ou no mínimo reproduzem as críticas fáceis, esquecendo de fazer o devido resgate histórico e as obrigatórias contextualizações.

Vamos contar uma historinha para, quem sabe, refrescar a memória dessa gente, talvez acometida da mesma doença que vitimou o jornalista Boris Casoy. Até o século 19, os atuais Congo, República Democrática do Congo (que um dia já foi Zaire) e o enclave angolano da Cabinda eram todos parte do histórico Reino do Congo, já então invadido e espoliado por franceses, belgas e portugueses. Num belo dia de 1885, quando as pressões da industrializada Grã-Bretanha já haviam obrigado à abolição do tráfico negreiro África-Américas, as potências colonizadoras européias resolveram se reunir em Berlim e formalizar uma “partilha” do continente africano, para iniciarem uma nova etapa de exploração, talvez mais sofisticada. Nos salões perfumados da capital alemã, o antigo Congo foi dividido em Congos Francês, Belga e Português. O Congo Português é a Cabinda. Poucos anos depois da partilha, os belgas exigiram um litoral para seu Congo “Kinshasa” – assim os portugueses cederam parte de seu litoral (a franja sul do território) e isolaram para sempre a atual Cabinda de Angola (veja mapa). Em 1975, com a vitória das forças libertadoras da África Portuguesa sobre as tropas de Lisboa na Guerra do Ultramar, o MPLA, movimento libertador de Angola, conseguiu reunir a Cabinda ao território da nova República de Angola. Desde então, os cabindenses lutam por sua independência contra o exército angolano, motivo pelo qual, provavelmente, aconteceu o terrível atentado do dia 8.

Jornalistas brasileiros, acordem! Essa crise tem as impressões digitais do colonialismo e do imperialismo europeus, mas há quem insista em negar. Mesmo quando se sabe que a Europa, através de seu futebol explorador do trabalho infantil, associado a patrocinadores como Adidas e Nike, que fabricam material esportivo através de mão-de-obra barata ou precária (adivinhem onde?), quando não com trabalho escravo mesmo, continua a reproduzir na África a lógica espoliadora de todas as etapas do imperialismo: a primeira etapa colonialista (marcada pelo Pacto Colonial e pela escravidão dos negros), o pós-Conferência de Berlim (com o acúmulo de capital das metrópoles via empobrecimento das colônias) e a conjuntura atual, de submissão dos interesses locais às transnacionais sediadas nas antigas metrópoles. Pobre Mãe África...



Repare no mapa. A Cabinda não faz fronteira com Angola, o que motiva a luta pela soberania da região. O Zaire é a atual República Democrática do Congo