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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma data histórica e seus reflexos no Brasil

Por Mário Augusto Jakobskind 
 
Parece que foi ontem. Há 37anos caia uma ditadura fascista em Portugal. Uma revolução conduzida pela oficialidade jovem mandava para o lixo da história a cúpula ditatorial comandada pelo então presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, que acabou vindo para o Brasil, cujos governos da época sempre votavam nas Nações Unidas com o regime colonial português. As exceções ficaram com um breve período de Jânio Quadros e João Goulart. O ditador de plantão, Ernesto Geisel, para limpar a imagem do Brasil na África acabou sendo o primeiro a reconhecer a independência de Angola.

Nestas bandas, a Revolução portuguesa, que tinha figuras de destaque como o Major Otelo Saraiva, era acompanhada com grande interesse, chegando até a provocar otimismo. Chico Buarque apresentava aos brasileiros uma sua composição que dizia, entre outras coisas, que “isso aqui algum dia vai se tornar um imenso Portugal”, o que, para variar, desagradava os detentores do poder de fato, que acabaram censurando a peça Calabar, musicada por ele.
Quando o povo disse não à ditadura
Seis meses depois desse triunfo histórico dos portugueses, o povo brasileiro, em outubro de 1974, votava em peso na oposição dando o recado de que estava farto da ditadura. O General Ernesto Geisel junto com o Coronel Golbery do Couto e Silva iniciava o que se denominava de “abertura lenta e gradual” em que os golpistas de 64 percebendo que o regime se debilitava decidiram comandar uma suposta transição.
Mas no meio de tudo isso, o mesmo general que conduzia a “abertura” promovia uma dura repressão quando ocorreu o assassinato de dirigentes de um partido político clandestino, o PC do B, em São Paulo. Um pouco antes, quase concomitantemente eram assassinados nos porões da ditadura o jornalista Vladimir Herzog e em seguida o operário Manuel Fiel Filho, provocando a exoneração do então comandante do II Exército, General Ednardo Dávila Melo.  
Geisel mais tarde em um de seus depoimentos chegou a justificar a tortura em “certas circunstâncias”. Deve ter aprendido isso com agentes estadunidenses e pouco antes com os franceses, especialistas em torturas na Argélia, que também ensinaram essa prática hedionda por aqui.
Movimento operário se reergue
 E o tempo avançou, o movimento operário se reerguia na região do ABCD e em São Bernardo aparecia um jovem dirigente sindical que começava a fazer história. Luiz Inácio da Silva, também conhecido como Lula, cujo apelido veio a se incorporar oficialmente ao nome. Pouco mais de 20 anos depois, o mesmo torneiro mecânico veio a se eleger Presidente da República, em outubro de 2002. O Brasil mudava e deixava para trás, pelo menos em parte, aqueles tempos de triste memória.
Agora, depois de Lula cumprir um segundo mandato e da eleição da primeira mulher como Presidenta da República, a ex-presa política Dilma Rousseff, ganha força a criação de uma Comissão da Verdade, para que o País vire de uma vez por todas a página nefasta de sua história representada pelos anos que se seguiram a derrubada do Presidente constitucional João Goulart.
Reformas ainda pendentes
Os tempos hoje são outros, bem diferentes daquele período, embora muitas das reformas de base, não levadas adiante, impedidas pelos golpistas de 64, continuem na ordem do dia, como, por exemplo, a agrária. No caso, em março de 1964, antes da derrubada de Jango, ocorria a reforma agrária mais avançada da história do Brasil, fato sempre lembrado por João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Claro, hoje uma reforma agrária de fato seria distinta da daquela época quando foram desapropriadas terras na beira de estradas, num raio de dez quilômetros dos eixos das rodovias e ferrovias federais. Hoje, o latifúndio se incorporou ao agronegócio, que se julga inexpugnável e ganhando até defensores de políticos como o deputado Aldo Rabelo (PC do B) com o seu Código Florestal, bastante badalado pela senadora Kátia Abreu, porta-voz dos ruralistas no Congresso.
Atualmente também está em discussão a revisão de um setor que para alguns é mais difícil de ser mexido do que o agrário. Estamos falando do setor midiático, apologista do esquema neoliberal e cada vez mais adepto do pensamento único. Nos últimos tempos, jornais como a Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, revistas Veja, Época e Isto É, para ficarmos no eixo Rio–São Paulo não escondem as suas preferências ideológicas e motivações jornalísticas.
Exemplo concreto
Aecio Neves BebadoUm caso concreto mais recente do jornalismo praticado por estes periódicos remete ao incidente protagonizado pelo Senador Aécio Neves, que se recusou a se submeter exame de bafômetro para medir o grau de álcool ingerido e acabou cometendo outra infração por estar dirigindo com carteira vencida. Como o caso vazou, os jornais divulgaram o fato.
Numa tentativa, digamos assim, de amenizar o incidente, o jornalista Jorge Bastos Moreno escreveu quase uma página inteira para dizer que “a política (quase sempre) é feita em torno de um copo”.
Colocou então Aécio Neves em pé de igualdade com os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, políticos como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, além de dirigentes estrangeiros como Bill Clinton e Boris Yeltsin, entre outros, afirmando que eles poderiam ser pegos também numa blitz da lei seca.
Moreno em seu estilo irônico quis fazer humor, mas o texto acabou sendo uma visível tentativa de limpar a barra de Aécio Neves, como se um político se recusando a ser testado no bafômetro fosse uma rotina e não prova de irresponsabilidade. Até porque não está em julgamento se o político xis ou ypslon bebe, mas sim se ele seria pego pelo bafômetro depois de uma noitada alegre. Mas isso o jornalista de O Globo não entrou em consideração.    
Na internet foram produzidas edições fictícias da revista Veja mostrando como seria a capa da semana caso o acontecido com Aécio fosse protagonizado por Lula. No final das contas, embora noticiado, o incidente foi verdadeiramente minimizado, pois afinal, como diriam os editores da mídia de mercado, “esse (político) é bem visto pela casa”.
O exemplo recente serve para ilustrar perfeitamente a tendência de uma publicação de linha conservadora, como O Globo. E se o leitor acompanhar o noticiário, nacional, internacional, da área de economia e outras observará grande manipulação informativa, que de tão primária desabona o jornalismo.
Resistências às mudanças
A resistência a esse tipo de crítica é muito grande e qualquer tentativa de democratização do setor é também rejeitada pelos grandes proprietários dos veículos de comunicação, que apelam até para a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) * lançar notas oficiais em favor da “liberdade de imprensa”. É entre aspas mesmo, porque na verdade o setor troca liberdade de empresa por liberdade de imprensa. E isso tudo com uma ampla divulgação.
Não é à toa que muitos observadores consideram uma reforma na legislação midiática, no sentido de sua democratização, realmente talvez mais difícil do que até mesmo uma reforma agrária. Mas só que sem reforma nesse setor, o Brasil não poderá ser considerado um país absolutamente democrático.
E, em suma, para se tentar entender melhor os dias atuais, é importante recordar de fatos históricos contemporâneos importantes, como foi o 25 de abril de 1974 em Portugal e até mesmo seus reflexos por aqui. Daí a oportunidade desta reflexão.
(*) entidade que reúne os grande proprietários de veículos de comunicação das Américas e que em praticamente todas as suas reuniões cerra baterias contra governos como o do Presidente venezuelano Hugo Chávez e da argentina Cristina Kirchner, exatamente porque nos dois países a legislação midiática foi modificada e onde os veículos alternativos (à grande mídia) e comunitários tiveram ampla extensão.
Fonte: Rede Democrática