segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Datas memoráveis

22/02/2013 - Síndromes, papas e datas memoráveis
- Izaías Almada (*) - Carta Maior

21 de fevereiro de 1848. Nessa data se publicou o Manifesto do Partido Comunista. Há 165 anos.

Nele, Marx e Engels (acima) dão o diagnóstico fúnebre da monarquia e da religião, estas suplantadas por uma nova ordem econômica, o capitalismo, e identificando a burguesia como a nova classe social opressora.

Curioso o movimento pendular da História.

Um século e meio depois o mundo vive, ao que parece, em nova crise de identidade, de transformação econômica onde, com esforço, impaciência e alguma incredulidade e ignorância por parte de uns e o esforço analítico e sério por parte de outros tantos, o mundo continua a dar cabeçadas em nome de alguma coisa que minimamente possa representar a solidariedade, a melhor distribuição da riqueza acumulada, a paz entre os povos.

Nesse contexto reina a confusão entre homens e nações.

Aqui no Brasil, por exemplo, ao declarar a uma emissora de rádio gaúcha, semanas atrás, que o deputado José Genoíno deveria renunciar ao seu mandato, o ex-governador do Rio Grande Sul, Olívio Dutra (foto), do mesmo PT de Genoíno, ofereceu de bandeja à oposição, em especial aos seus pitibuls na mídia, o pretexto para ampliar a execração da esquerda brasileira.

Outra coisa não fizeram alguns desqualificados jornalistas e comentaristas políticos que, além de ironizarem o fato, ainda relembraram um caso antigo que envolveu o próprio governo Dutra no sul, citando o encontro de um seu funcionário com bicheiros naquele estado que, supostamente, ajudavam a financiar campanhas eleitorais.

Em outras palavras: Olívio Dutra, além de demonstrar inabilidade na análise da conjuntura atual da política brasileira deu munição àqueles que já não sabem muito bem o que fazer com os dez anos de governo do Partido dos Trabalhadores.

Ou não sabem como conviver com o julgamento da AP 470, o maior e mais ridículo julgamento político feito por um tribunal brasileiro em tempos de democracia.

O tempo vai passando e, sobre isso, o jornalismo investigativo, o sério, vai aos poucos desmontando a farsa do “mensalão”, deixando a oposição de direita, de meia-direita, de centro ou mesmo de esquerda de calças na mão.

Além do livro “A Privataria Tucana”, que mostra com provas irrefutáveis o verdadeiro ninho da corrupção no Brasil contemporâneo, temos o trabalho do jornalista Raimundo Pereira na revista Retrato do Brasil e agora o livro do jornalista Paulo Moreira Leite, “A Outra História do Mensalão” (também da Geração Editorial), matérias da revista Carta Capital e do jornal Brasil de Fato, além de inúmeros blogues, vão dando contornos à farsa político/jurídico/midiática organizada pelos setores mais comprometidos com o atraso em nosso país.

Do julgamento à renúncia do papa. O que deixa Deus sem seu representante na terra por algumas semanas.

Fui surpreendido, como milhões e milhões de cidadãos com a notícia da renúncia do papa Bento XVI (foto abaixo) e dei-me conta (não é a primeira vez, claro) de que é tudo muito efêmero à nossa volta.

Nada é muito novo nas relações humanas.

O mundo caminha a passos largos para tornar tudo relativo e de pouca importância. Ou melhor, essa caminhada – ao que tudo indica - tem a ver diretamente com o sistema econômico de cada época em que se vive e, portanto, a que estamos submetidos.

O laicismo, desde sua definição e adoção em França, não tem passado de um conceito apenas teórico, cuja prática deixou e deixa de existir com as diversas interferências da religião na vida dos cidadãos e do estado.

A fé continua a ser um “produto” vendido nos grandes mercados mundiais da ingenuidade humana. O que, apesar de não ser nenhuma novidade, contribui para confirmar uma zona nebulosa da humanidade.

Por outro lado, o moderno sistema de comunicação social, tendo a seu serviço emissoras de televisão privadas e estatais, jornais e revistas para os mais variados gostos e ideologias, emissoras de rádio, internets, tuíteres, feicibuquis, celulares, tabletes e mais algumas bugigangas da posmodernidade, afunda o ser humano numa cisterna de informações contraditórias, espalhando no mais das vezes a confusão para dividir e reinar, para alongar a vida de um capitalismo que já dá inúmeras mostras de esgotamento de seus principais postulados.

Nesse vendaval de informações e teorias, as várias religiões espalhadas pelo mundo ainda tentam “vender” uma fé que já não consegue se explicar. E, no meu modesto ponto de vista, que nunca se explicou.

A história das religiões é, antes de qualquer coisa, a história do próprio homem, de suas virtudes e de seus defeitos. O homem é quem cria os deuses à sua imagem e semelhança.

Termino por dizer que 21 de fevereiro de 1912 é também uma data importante, pelo menos no meu calendário. Nesse dia, mês e ano nasceu Martha, minha saudosa mãe, que morreu ainda jovem e não conheceu o computador, o celular, o Genoíno (foto), o Partido dos Trabalhadores, o papa Bento XVI e, com toda certeza, nunca ouviu falar em Marx e Engels. E muito menos em Julien Assange e seu Wikileaks.


 Aproveito, então, a data para sugerir à nossa ilustre visitante Yoani Sánchez (foto E), brava defensora do direito de expressão dos grandes monopólios mediáticos, que interceda junto ao governo norte-americano pela vida e pelo direito de expressão do soldado Bradley Manning (foto D).

(*) Isaias Almada é escritor e dramaturgo. Autor da peça “Uma Questão de Imagem” (Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos) e do livro “Teatro de Arena: Uma Estética de Resistência”, Editora Boitempo.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5982

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.