quarta-feira, 1 de junho de 2011

DA BIOPOLÍTCA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS À BATALHA NAS REDES: VOZES AUTÔNOMAS


VLADIMIR LACERDA SANTAFÉ* 

Resumo:

Palavras-chaves: movimentos sociais, multidão, redes, tecnologias digitais, biopolítica

"Digo não quando dizem sim em coro uníssono. Quero descobrir e revelar a face obscura, aquela que foi varrida dos compêndios de História por infame e degradante; quero descer ao renegado começo, sentir a consistência do barro com lama e sangue, capaz de enfrentar e superar a violência, a ambição, a mesquinhez, as leis do homem civilizado. Quero contar do amor impuro, quando ainda não se erguera um altar para a virtude. Digo não quando dizem sim, não tenho outro compromisso".
Jorge Amado, Tocaia Grande

É preciso dizer não algumas vezes, quando a violência se diz a lei e o homem civilizado não passa de uma sombra da sua ambição, algumas vezes é preciso gritar, mesmo que não se seja ouvido. O grito faz bem para os pulmões e para o futuro. Esse trabalho é um “grito” e uma tentativa de transformar em teoria as práticas e as incertezas de anos de militância. Militância que se confunde com as angústias da existência, com as “janelas quebradas”, os cacos espalhados no carpete, toda existência é um grito. Na sociedade atual, o que, com Negri e Hardt, chamamos de capitalismo cognitivo, as vozes são muitas, o poder é descentrado, mas atuante, algumas vezes essas vozes se concentram em uma única voz uníssona, mas é preciso dizer que as muitas vozes dissonantes formam um conjunto potente que faz frente a essa voz imperativa.
O que pretendemos nessas linhas tortas e inexatas, nesse feixe de representações que buscam um solo para cravar suas raízes e despedaça-las em seguida: fazer um mapa das redes desse poder difuso, e ao mesmo tempo eficaz, que molda nossos espíritos e corpos, a forma como o conjunto das informações é difundido, de como essa rede funciona estabelecendo uma axiomática, um consenso em torno de “verdades” disseminadas e represadas, pela circulação acelerada das informações e do consenso que se forma a partir delas, dos signos que se remetem infinitamente a essa rede que assegura o consenso em torno da economia de poder difundida e ressoada pelos aparelhos de Estado e seus meios de produção da informação. De como as pessoas se submetem, reproduzem e que tipo de poder atua sobre os seus corpos e mentes, quais os dispositivos tecnológicos utilizados, e até que ponto somos efeitos desses dispositivos e discursos de verdade. A informação, na realidade, que é retida e concentrada. A verdade é que não se informa, se diz o que se deve pensar. Mas até que ponto? Fazer um mapa do uso das novas tecnologias digitais, a criação das linhas de fuga e dos agenciamentos que as traçam, agenciamentos sempre animados por uma máquina de guerra, seja a partir das TVs Comunitárias, dos documentários produzidos pelos movimentos sociais, seja na utilização dos espaços disponibilizados pela Internet, um meio rizomático por excelência, seja a partir da ocupação dos espaços “tradicionais” de difusão de informações. Movimentos sociais que criam suas redes de resistência e criação, produzindo uma malha de significados que torna consistente a própria sociedade informacional que nos “alimenta”, significados não-determinados pelas grandes mídias, que perde terreno com as novas tecnologias digitais. Hoje, mais do que nunca, os movimentos sociais precisam enfrentar os desmandos das autoridades estatais e suas redes de captura, tal como o direitoso Sarkozy, que “afirmou que o controle e a regulamentação da rede devem ser impostos pelos Estados, para evitar anarquia, e que as grandes companhias da web não vivem em universo moral paralelo”, são por essas e outras que a autonomia dos grupos e das pessoas deve ser conquistada pela força das mobilizações globais, pelo grito dos divergentes que almejam um mundo sem sarkozys e monopólios midiáticos, e ainda mais profundamente, um mundo sem classes e sem mandos
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Considerações: Esta tese de mestrado de Vladimir Lacerda  Santafé*,( que transcrevemos o resumo), reforça e fundamenta a essência da Educomunicação, embora não tenha sido  o propósito desse trabalho acadêmico. A tese ainda não foi publicada, porque foi defendida recentemente, dia 27 de maio de 2011, na ECO/UFRJ, quando  foi muita elogiada pela banca examinadora..A exposição foi gratificante para editora deste Blog, Zilda Ferreira.